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16 fevereiro, 2007

Contos D’água Salgada



TEMPESTADE


Tião Queiróz

Lá vem você de novo
soprando forte as minhas velasarrancando meu mastro
com as próprias mãosinvadindo minha escotilha
com sua língua de sal

e como se meu convés não lhe conviesse...

porque quiseste então tanto o meu mal?
porque quiseste então tanto a minha nau?

guardo memórias das tuas ondas
sobre o meu corpo
guardo lembranças das tuas calmas águas
e do teu porto
guardo em mim o cheiro e a marca das tuas
tuas marés
e o triscar das minhas redes nas tuas encostas
seus grunidos de gaivota
cortejando o ar

lembro ti ver sorrindo em meu tombadilho
e revirando os olhos
provocando os ventos

mas sei das nossas aventuras
sei do nosso idílio
noite e madrugada adentro

sei dos teus desatinos

nua dançando pela prancha

e nem bem sei quem tu és
sei que tu vais embora
com o primeiro clarão do dia

e depois impera a calma, a calmaria
e não sei se ti chamo de serva,

senhora?

mulher vadia?

Do que vou ti chamar?

- Sua majestade a tempestade em alto mar -

Como sentir-se?

A V A S S A L A D O R A!!!