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13 março, 2007

À flor da pele...

SENTIDOS...
Eis o império mais doce e mais cruel
Inteiramente situado dentro do ser!
Sem muros, sem amarras
Faz-nos Imperadores e escravos



Sentir...
A toque suave da mão que te segura
e te apresenta o mundo
A doce voz que te embala o sono
O aroma de quem te alimenta de carinho,
te prepara o ninho e te aconchega




Sentir...
As alegrias da inocência que te fazem sorrir
As tristezas das separações
que te fazem forte
As surpresas das descobertas
que te causam pasmo, brilham nos olhos
e te fazem feliz


Sentir...
O entusiasmo da amizade
que enche o coração
As iras que te fazem inconstante
O gosto agridoce das primeiras paixões
que preenchem os sonhos




Sentir...
A doçura do primeiro beijo
O rubor da primeira paixão inocente
A vergonha de sentir
e não saber disfarçar nem conter




Sentir...
A paixão que dilacera a alma
A loucura que despedaça a calma
A tristeza que mata o ser
e ensina a renascer





Sentir...
O desejo que corta o seio
e alimenta os olhos
A umidade que aquece a carne
A secura que molha a boca,
que tira a roupa, e faz gemer




Sentir...
O pulsar do corpo lascivo que fecha os olhos
Que amarra os pulsos pra soltar a mente
Que puxa a nuca
Que beija a boca
Que morde




Sentir...
A cadência da dança
que arrepia a corpo
Desejo latente
Corpo ardente
Flor da pele
Insanidade,


Sentir...
A paz dos corpos suados
Dos beijos molhados
O prazer bebido em goles
Quase morte... sem sentidos
Insensível... Quase vivo...





Sentir...
A alegria da vida que renasce
A tristeza da vida que se vai
A saudade que nunca passa
O movimento que recomeça





Sentir ...
O tempo que corta tal qual lâmina fria
Que pesa nos ombros
Que abre a mente
Que enche a alma
Que traz a calma buscada a vida inteira



Sentir...
Que é nesse carrossel de sensações
e sentimentos
Nessa corda bamba que nos impulsiona
para o lado que o vento sopra
Que nos equilibramos durante a existência
Entre prazeres e tristezas
Agonias e gozos
Iras e paz




Mas é neste império de sentidos, de sentir, de querer,
que vivemos como imperadores e súditos
e, sendo nós, meros viventes
Não podemos abrir mão de tamanho tesouro
Pois de que adiantam palavras
Se é sentindo que estampamos em nosso ser
Seja dor ou prazer
Surpresa ou ponderação
Aquilo que realmente somos?


por Cau Alexandre

Imagens: Gettyimages

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