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20 março, 2007

História de criança...

Houve um tempo, bem lá atrás na minha história, em que eu cultivei verdadeira admiração por uma coluna do Pedro Block, na revista Pais & Filhos. Nem sei quando isso começou. Meados da pré-adolescência, acho.

Eram histórias de crianças menores que eu. Muito engraçadas. Sempre achei que ele escolhia as melhores. Adorava. Na verdade, adoro até hoje.

"Um dia, uma menina estava sentada observando sua mãe lavar os pratos na cozinha. De repente, percebeu que sua mãe tinha vários cabelos brancos que sobressaíam entre a sua cabeleira escura. Olhou para sua mãe e lhe perguntou:
— Porque você tem tantos cabelos brancos, mamãe?
A mãe respondeu:
— Bem, cada vez que você faz algo de ruim e me faz chorar ou me deixa triste, um fio de meus cabelos fica branco.
A menina digeriu esta revelação por alguns instantes e logo disse:
— Mãe, porque TODOS os cabelos de minha avó estão brancos?"

Eu que sempre fui de rir muito, caia na gargalhada. Me rendia diante sa perspicácia daquelas "crianças". Mas sabia eu que ainda era uma delas.

"Uma professora de escola bíblica estava discutindo os dez mandamentos com seus pupilos de 5 e 6 anos. Depois de explicar o mandamento de "honrar pai e mãe", perguntou:
— Tem algum mandamento que nos ensine como tratar os nossos irmãos e irmãs?
Um menino, o mais velho de sua família respondeu:
— Não matarás!"

Ops... eu era a caçula. (risos) Mas tudo bem... A coluna do Pedro Block (que agora me fugiu completamente o nome) era um tesouro que eu adorava ter nas mãos e ler e reler.

Talvez tenha sido dessa identificação com meu próprio universo, com as historinhas do Pedro, que outras paixões foram ficando ainda mais fortes, como a paixão pela língua solta da Emília, do Lobato, a crítica sempre afiada da Mafalda, do Quino, os eternos questionamentos e reflexões do Charlie Brown, do Charles Schulz, a pimentice, inquietação e imaginação do Calvin, do Bill Watterson. Talvez todas essas paixões juntas é que foram responsáveis por este serzinho sincrético que hoje vos escreve.

Olhando pra tudo isso, que eu carrego aqui como lembranças de uma parte da infância, é que eu penso que serei criança mesmo quando eu estiver com 150 anos (Vou viver até lá? Não sei... mas se viver vou ser criança sim. risos) Já não tenho aquele aspecto 'minguado' que minha mãe teimava em querer mudar (às vezes, acho que eu parecia a Wednesday. Isso mesmo, aquela da Família Adms.. risos). Já não tenho as longas madeixas que meus pais adoravam, já se passaram longos anos... Mas eu vou continuar a ser a mesma moleca.


Criança na ingenuidade sagaz dos olhos. Na palavra limpa de hipocrisia. No cuidado verdadeiro com seu amor e seu amado. Na confiança real de quem se joga nos braços de que ama, na certeza que ali haverá segurança e não um falso e raso sentimento, apenas com uma capinha de 'desejo'.


Sim, serei criança, como a eterna vida à frente. Crianças cuidam. Lembro do Pequeno Príncipe, que no seu amor mais egoísta deu tudo o que tinha por sua rosa, e por ela aprendeu e viveu.


Hoje taxamos adultos inconseqüentes de "crianças". Que maldade. Rótulo imerecido a eles. Quem não mede as conseqüências de seus atos não merece a nobre honra de ser comparado a estes seres tão sublimes. Dizemos "infantis" àqueles que acham que a vida e o coração alheio são brinquedos. Que tolice. De forma algumas esses merecem essa alcunha. Quem não tem respeito pelo seu próximo mais próximo e pelos seus sentimentos já deixaram, há muito, o 'egocentrismo' infantil. Já galgam as raias do puro egoísmos e 'umbiguismo'. Desde que suas próprias carências sejam supridas, o resto que se adeqüe.

De qualquer forma, que possamos sempre cultivar e resgatar dia após dia nossa criança verdadeira. A que tem a eternidade nos olhos, a coragem de sentir e seguir em frente, a curiosidade que impulsiona a descoberta ingênua, a criticidade pura, a inquietação de quem vive, a palavra limpa, a sensatez simples, dita na hora exata e à pessoa certa, a ironia sutil, o sorriso perene, o amor incondicional e verdadeiro.

Quem sabe descobriremos como é doce o sabor dessa tal liberdade infantil!!!

Quem sabe poderemos finalmente entender o que uma outra criança grande disse:


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