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19 março, 2007

Ironicamente séria...

"Nem todas as verdades são para todos os ouvidos"
Humberto Eco

"As verdades podem ser nuas - mas as mentiras precisam de estar vestidas "
Textos judaicos

A ironia do meu ser


Se eu sou irônica? Sim eu sou.

O quanto? Para cada poro meu, para cada fio de cabelo, para cada pensamento que me perpassa... aí reside minha ironia.

Sim, eu sou irônica, pois é na ironia que reside a graça da vida. Criticidade aguçada, língua afiada, olhos atentos e liberdade de se dizer o que se pensa.

Isso dói? Espero que doa.. (risos). Mas não é bem assim. Dói aqui em mim, quando vejo e sinto que algo não encaixa, não se enquadra, ou deveria ser, ou não... aí.. ironia.
Gosto do humor latente do 'ser irônico', embora seja tão doce como o gosto do sangue na ponta da faca. Picadas... Alfinetadas.

O único grande problema é que pra entender a ironia tem-se que ser igualmente irônico ou ao menos inteligente o suficiente.
É, eu sei que dói. Mas a dureza da objetividade fria é maior, e essa incomoda mais.

A ironia que reside no meu ser é fruto da tentativa de rir de mim mesma. Desacreditar no que meus olhos vêem, no que meus ouvidos ouvem, ou ainda, nos caminhos que meus pensamentos vão.

Disseram-me “dura”. Sim, devo ser. E é pela ironia que me amoleço. Pois ao invés de cuspir impropérios, dou-lhe um tapa com luva de pelica. Leve, sutil... suave como vento que lhe toca mansamente a face e lhe arranca pedaços dos lábios.

Gosto de rir muito mais de mim mesma. Pôr-me no lugar de tantos que passam por mim e rir. Rir em ver-me em situações tenebrosas, escandalosamente nefastas em que as pessoas se põe.

Humor irônico beirando o cínico? Não iria tão longe, embora que para se ser realmente livre no pensar – o que reafirmaria o irônico da vida - não se escapa de uma boa dose de cinismo.

Daí advém-me questões como:

Por que um ser, dito inteligente, se põe a ocupar o papel de palhaço num picadeiro de um circo já por todos conhecido? Desejo de brilhar em algum tipo de céu, nem que seja de lona?

Por que na vida, tão dura e fria, se perde tanto tempo ocupando-se do que o outro achou que deveria ter pensado em dizer? Desejo interno de adentrar no pensamento daquele que jamais entenderá os próprios desejos imensuravelmente escondidos até de si mesmo? (Essa nem Freud explica)

Por que alguns ditos seres humanos acham tão interessante brincar com o sentimento daqueles que lhe estendem as mãos? Falta de brinquedos realistas durante a infância?

Não me resta nada se não a ironia, para olhar fundo nos olhos das pessoas e dizer: “C'est la vie. Cada um só dá o que tem”. E rir.

Questiono-me por que é tão mais fácil jogar-se ao engano da vida do que pensar um pouco, um instante... uma fração de segundo antes da queda. Por que é tão mais fácil lamentar um erro cometido em sã consciência, do que admitir que se pôs em posições desfavoráveis por vontade própria e aí não há o que lamentar?

Não me resta nada além da ironia pra expressar: “Quem pariu Mateus que o balance”.

Cada um traça seu caminho. Cada um entrega seu coração a quem deseja. Mas por favor, senhoras e senhores, evitem fazer da vida um palco de seus dramas públicos. Olhem-na nos olhos e digam: Erro porque quero. Padeço se merecer. Mas EU vivo! E vivo como escolhi.

É muito mais honesto consigo mesmo e com a própria vida. Prefiro isso a ver lágrimas pungentes de um crocodilo qualquer que se fez presa dos lobos maus e lobas devoradoras, que multiplicamse nessas nossas florestas cotidianas, achando que era melhor “ser visto (a), ser ouvido (a) e ser comido (a)” e depois ficam lamentando a sorte.

E àqueles que levam a vida a receber tais ‘iguarias’, e disso fazem suas melhores lembranças lembro: Brio há até entre ladrões, mesmo os de coração. Porque há de se ter caráter até pra ser filho da puta.

Quanto a mim, resta-me a ironia que repete em meio a um sorriso torto: Bem que eu te disse... eu te disse... eu te disse.

por Cau Alexandre

E um último segredo gritante:


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FODA-SE!!!


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