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06 março, 2007

Lembrar...


Insone...




E durante minhas longas horas insones, surpreendo-me mais uma vez pensando.
O que eu penso?
Um turbilhão de pensamentos, fatos, pessoas, histórias. Rostos que pulam aos olhos da mente. Momentos perdidos no tempo, frases entrecortadas, diálogos... não terminados. Monólogos. Saudades, esperanças, desesperanças, medos, tristezas... Meu Deus como eu agüento viver em mim... esta cabeça que não pára, não dá trégua. Que guerrilha mais acirrada entre eu e eu mesma.
Minhas guerras travo aqui dentro. E por mais transparente que se seja, ao longo da vida aprende-se a manter um sorriso pronto que mantêm os 'de fora' fora.
E os de dentro? Os que lêem os olhos não se intimidam com sorrisos.
Os que ouvem o coração não se assustam com os gritos e os impropérios.
Os que lêem o pensamento não se deixam enganar pela letra.
Sempre pensei em você assim... sentado, me olhando, enquanto eu pareço uma barata tonta.
Olhando assim tão suave, com um sorriso de 'canto de boca', com olhos tão tranqüilos, mãos tão pacientes, palavras tão quietas.
Eu e minhas guerrilhas, vendo-o na minha frente... amando-o e detestando-o por me fazer sentir tão frágil.

- Senta aí, vamos conversar.
- Não posso. Há tanto a fazer.
- Não precisa... estou aqui.

De onde tiras esse poder de bruxo, que me aquieta e me tranqüiliza?
Teus olhos me acalmam, tua boca me sossega, tuas mãos me acalentam... sinto-me perdida de mim. Um ser que não consigo reconhecer. Sou mais tua que minha e isso me faz ter novo acesso de inquietude.
Um abraço.
Novamente a suavidade me toma.
Olho teus olhos...

- Como pode? Como consegues?
- Como consigo o quê?
- Acalmar-me, seu bobo. Parece que você traz calmante nessas mãos. (risos)
- Ah! não é verdade. Também te deixo inquieta. Não lembras disso? (risos)


E a mente voa novamente...
Vejo-me correndo das mesmas mãos... com prenúncios de cócegas e apertos. Brincadeiras infantis que faziam a casa virar de 'cabeça pra baixo'. Risos soltos, gargalhadas... dia claro.
E volto às minhas noites e aos meus pensamentos e às minhas guerras.
É... sinto o perfume nas mãos... e nos ombros o peso das escolhas que fazemos.
Não sofro... só penso.


- Queres mesmo fazer isso? Tens certeza?
- Claro que sim, por quem me toma? Mulher fraquinha? Imagine uma coisa dessas. (Pose de forte... como se fosse possível nesse um metro e cinqüenta e seis - risos)
- Vai doer um pouquinho, mas é rápido. Já escolheste?
- Ainda não.
(Uma caixinha... fitinha colorida...) Meus olhos. Sorrisos.
- Abre.
- Pra mim?
- Não. Pra minha irmã que mora longe. (risos)
(Uma careta... como boa 'criança' mostro a língua... ganho um beijo)
- São lindos.
(Os olhos brilham... Ele ganha um beijo)
- Agora vai. coragem. (muitos risos)

Volto a ver o reflexo dos brincos, agora aqui, tanto tempo depois.
Já perdi-me nos pensamentos. Não sei mais o que foi real ou sonho. Deveria ter sido e foi?
A luz que pisca e meu pensamento voa...

-Tenho medo de relâmpagos.
(muitos risos... minha cara de reprovação... mãos próximas, braços seguros)
- Vou contar a todos que você não é esse poço de coragem. (mais risos)
- Acho que meu problema é você.
(olhar de estranheza, como quem pede explicação)
- É sim senhor. Você me deixa assim, sem vontade de ter coragem. Só pra você me cuidar.
(Que doce beijo! Sensação de estar mais que protegida... já até esquecera os relâmpagos)


É, minha insônia me leva longe. Entre a lembrança e a fantasia. Será que estou sonhando? Dormi e não senti? Será?
E me vejo deitada ao seu lado, olhando nos olhos, mãos nas mãos, ouvindo-o sussurrar...

- Sim, há uma coisa que não gosto. E nunca mais quero você dizendo isso. Nunca mais brinque em dizer que é feia, sem graça, essas coisas. Você não é. Você é tudo que eu tenho. Mais preciosa, melhor, linda, gostosa. Minha. Nunca mais dirás diferente, promete?


Será que alguém um dia me explicará porque se faz promessas que não se cumpre? Ou porque se diz coisas pra depois desdizer?

Se alguém se aventurar, por favor, expliquem pra mim porque não se consegue domar o pensamento. Quero dormir e acordar ontem.


por Cau Alexandre