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17 março, 2007

A um amigo...


Uma Noite de Lua

Tião Queiroz

Cada teu passo na minha areia
Pode até parecer brincadeira
mas...

Nenhuma onda ti desfaz.

Cada minuto do seu tempo
Você talvez nem possa imaginar
Todavia...

Ninguém jamais apagaria

E em cada palavra ou gesto
Que eu me lembro
Eu sou bem mais cúmplice
Que insuspeito

Podem dizer até que eu não presto
Mas eu sou seu amigo de um jeito
Bem desse jeito...

Amigo do seu peito

Se cada sorriso da tua boca
Me fez sentir tão esperto
Contudo...

Seu olhar sempre me deixava mudo

E aquela luz no teu cabelo
Na tua pele, teu corpo inteiro
Para tanto...

Como fugir do seu encanto?

E até que a sombra me revele
Eu me disfarço de deserto
Kalahari...

Até que o teu suor me molhe

Até que os teus olhos me disparem
Aquele afeto, aquele desejo de mulher
MATAHARI...

Até minha vontade ficar nua...

Até...

Até uma outra noite de lua

(Contos d'água salgada)


Há pessoas que por vezes passam na nossa vida. Geralmente na primeira vez essas pessoas passam e deixam marcas. Depois retornam. Depois e depois e depois.
O Tião, autor do texto acima, é um amigo de alguns anos, uns seis, eu acho, e conheci a escrita dele quando ainda era feito em 'repentes' e rompantes. Chamavam-lhe 'tolo'.
Eu lia seus versos disformes e ria... e reclamava dele, apontando uma necessidade de técnica, forma, mas sempre disse a ele que o 'engenho' nele residia.
O tempo nos distanciou. Como se as distâncias geográficas já não fossem suficientes. De tempos em tempos nos 'achávamos' em uma conversa descomprometida, sobre a família, a vida, as musas, que na vida do Tião sempre foram tantas. E ficávamos lá, de papo, sobre tudo o que se passava.
E no decorrer do tempo, sem nenhuma pretensão, ia palpitando naquilo que ele produzia. E fui, alegremente, percebendo que o poeta do 'rompante' amadurecia suas palavras. Talvez junto com os sentimentos, ou não. Já que sentimentos sempre foram o bem maior desse poeta.
E, finalmente, percebi que a poesia 'do Tião' tornara-se adulta. E ele, definitivamente Poeta..
Hoje, o Tião mais uma vez tirou-me as palavras... com um gesto simples, quase imperceptível, talvez até ignorado por muitos. Mas ele ligou o meu lugar mais querido, minha caverna marítima de idéias a sua série de poemas. Seus transbordamentos via Mar de Palavras.
Isso, talvez, não pareça muito. Mas para mim, que prezo tanto àqueles que por um motivo ou outro, ou pela simples falta do que fazer, visitam-me e compartilham comigo meus sentimentos, ah! isso é tudo.
Sinto-me por demais honrada, amigo Tião. E agradeço o seu carinho.
E mesmo nas intempéries desses nossos mares, agradeço por sempre termos sido, de forma tão ingênua e doce esses bons amigos que sempre fomos, sempre e acima de qualquer outro rótulo que tenhamos adquirido na vida.
Obrigada pela lembrança deste Mar, que lhe embalou sonhos, não importando qual fosse a musa que nessas águas se banhava, na sua memória ou na sua inspiração.

Beijos, Bembom.

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