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10 maio, 2007

Julgamento...

E lá vai ela entrando no quarto com aquela cara de sapeca que lhe é familiar quando quer aprontar alguma coisa. Vestida de preto no que parecia um vestido curtinho. Mostra a poltrona e o chama.
— Vem cá 'neném'... Fica aí sentadinho que agora vamos começar algo muito importante.
Ele faz uma cara de espanto quando ela pega as mãos dele e prende-as.
— Pra que as algemas? Ah! Simples. Vai começar o teu julgamento.
Ele fica surpreso. Ela ri.
— Ah! Não faz essa cara. Você sabe que é culpado.
Ele contesta. Ela faz uma cara séria. É a 'menina má', como ele a chama.
— Claro que é!!! Nem vem se dizendo inocente. Você é um meliante.
Risos de ambos. Mas ele faz uma cara de bravo. Só tipo pra entrar no jogo.
— Pra tirar a mordaça? Tá! Hoje eu tô boazinha, vou tirar. Mas não pode dizer bobagem, se não a 'pena' aumenta.
Risos dela da tentativa frustrada de mordida dele.
— Vamos começar, então.
Cara de séria, olhando-o nos olhos...

— Hoje, esta corte (de uma só) reúne-se para o julgamento do' senhor, aqui denominado 'Sr. Amor da Minha Vida'.

E ela ali, com cara séria (a muito custo) fez-se de promotora, jurada e juíza.

— O Sr. Amor da Minha Vida, que também atende pela 'alcunha' de 'meu neném', e que será aqui tratado apenas por AMV, é acusado de vários 'crimes'. a saber:
— É acusado de manter o estranho hábito de olhar a vítima (esta que vos fala) enquanto a mesma dorme. Em conseqüência é acusado de tirar-lhe qualquer outra visão quando a mesma acorda, pois é ele a sua primeira imagem da manhã.
— O acusado, sem nenhum pudor, ainda causa-lhe um rubor e um calor não típicos das manhãs, pois após vê-la acordar, presenteia-lhe com um longo beijo que, por vezes, leva a 'pobre' e 'indefesa' vítima a um estado de pleno derretimento e à prática de atos altamente deliciosos, digo... 'periculosos' (risinho safado).
— O Sr. AMV além de tudo isso, ainda lhe traz café na cama todos os dias. Isso mesmo senhores. Um ato de extrema crueldade desses: Café na cama. E percebam... Isso é um ato de maldade continuada... Pois 'dia-após-dia' ele repete a mesma cena. Café com leite (o preferido da vítima), pão quente, uma fatia de queijo, um copo de suco e uma pequena flor (de guardanapo). Inadmisssível senhores jurados. Uma crueldade sem tamanho.

Ele tenta defender-se lembrando fatos passados.
— Por favor, Sr. AMV, mantenha-se quieto. Não, não é relevante lembrar das flores roubadas do jardim da vizinha (aliás, isso só piora sua situação).

Ambos não agüentam e riem.

— Vejam senhores, isso é só o início do dia. Ainda há muita crueldade.
— Há fatos que são corriqueiros, mas que infelizmente tornaram-se banais e comuns nos dias de hoje. Toalhas pelo chão, jogos de futebol na hora da novela, telejornais e mais telejornais por horas na TV. Um exacerbado senso de pontualidade, reclamações com o vestido transparente e decotado, com a minissaia curta, com o batom vermelho. Pequenos desentendimentos, brigas feias. Isso e um pouco mais são traços deste acusado também. Mas, além disso, temos as acusações mais contundentes:

Protestos. Todos ignorados pela promotora.
— O Sr. AMV ainda é acusado de olhar a vítima com o mesmo olhar apaixonado há anos. Um olhar tão cativante que causa a pobre vítima o pior dos 'males' resguardados a uma tagarela sem fim... o silêncio.
— Não é só isso, senhores... O acusado ainda comete atos de profunda malvadez, pois ainda abre a porta do carro, ainda olha as coxas da vítima (um ato de extremo despudor) quando esta veste uma minissaia (a mesma que ele relutou tanto em deixá-la usar). Este indivíduo ainda sussurra obscenidades no ouvido da vítima enquanto estão na fila do cinema, ainda beija-a na boca como se fosse a primeira vez que seus lábios sentissem sua boca doce e sua língua sedenta, ainda conta piadas só pra ficar vendo-a sorrir.

Careta dele mostrando a língua. Vontade dela de dar um 'nhac' na língua travessa. Ambos riem e depois recuperam a compostura pedida pela-se brincadeira.

— Mas o pior de todos os atos deste 'meliante' em relação a esta vítima não é só arrancar-lhe as palavras, fazê-la suspirar, tirar seu fôlego enquanto a ama ardentemente, fazê-la entrar em delírio enquanto passeia sua língua por todos os pequenos recônditos, saliência e reentrâncias do seu corpo, emudecê-la com um beijo forte, aquecê-la com o toque despudorado de suas mãos nas suas coxas e nas suas partes púdicas. Não senhores, isso não é tudo.
— O maior de todos os atos do acusado é ainda desnudar a alma da vítima com um olhar simples, segurar sua mão quando ela tem medo (de agulhas principalmente), oferecer-lhe colo quando ela está impaciente, chegar de mansinho com um chocolate e sentar-se do lado calado quando ela está na TPM, secar suas lágrimas com beijos quando ela está triste. Ele ainda tem a audácia de ser seu companheiro, confidente, amigo, amante e confessar por diversas vezes que fez dela a mulher da sua vida.
— É por isso senhoras e senhores que vos digo que este Sr. Amor da Minha Vida é culpado de fazer desta vítima uma mulher Feliz.
— E por declarar-se culpado, antecipadamente, a pena do réu já está decidida:
O réu há de contentar-te com o som da voz da vítima dizendo amá-lo infinitamente, dia após dia. Condeno-o a guardar em si todos os mais íntimos segredos da vítima. A amparar o corpo da vítima junto ao seu, quando sem forças, ela desfalecer pela sua presença, pelo seu toque, pela sua voz. O réu também deverá ver a vítima sorrir sempre que ele contar uma piada e ouvi-la atentamente gemer seu nome enquanto o beijo louca de tesão. Definitivamente o réu está condenado a, para sempre, a ser parte da vida e viver nela e ambos serem UM.
— Assim, sr. Amor da Minha Vida, pagarás por todos os seus 'crimes' e mostrarás que mesmo com defeitos e problemas, com a correria dos dias e dos anos ainda consegues fazer lembrar que não existe homem perfeito, mas que ainda há homens que se superam, não conquistando uma mulher a cada dia, mas conquistando a mesma mulher todos os dias.

— Agora, 'neném', mesmo sem algemas e amarras, estás mais preso que antes.

Ela no colo dele que a beija tão carinhosamente que parece que não haverá fim.
Caso encerrado... meia luz. E chega a imperiosa hora de impetrar a pena ao, já então, feliz culpado!!!
=P

por Cau Alexandre




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