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15 março, 2011

Caminho...


ALEGORIA PARA OS PÉS CANSADOS

Cau Alexandre

Levantou-se do banco onde estivera tanto tempo, apenas sentada, vendo o tempo passar. Parecia tanto tempo, tanto tempo à margem do mundo borbulhante do passantes. Dos carros barulhentos. Do burburinho das gentes. Da imagem de profundo infinito que se desenhava tão instigantemente fugaz e duradoura, tudo bem a sua frente.
Olhou para frente, aqueles minutos pareciam horas, dias, anos, vidas, eras, mas foram só uns minutos. Alguns minutos para atender seu cansaço e seus pedidos inconscientes de parar. Descansar... Sossegar.

O dia perdera os tons vermelho-alaranjados do fim de tarde, e o céu tomava pra si tons de azul profundo. Profunda era sua certeza de que era hora de seguir o rumo que se abria a sua frente, seu rumo, seu caminho, sua estrada.

O primeiro passo ainda era o mais difícil. Apegara-se aquele banco? Impossível. Quem se apega a tão pouco em tão pouco tempo? Seria a sensação de reconfortante alívio que seus pés cansados sentiam? Certamente. Seria, sim, o conforto de apenas ficar olhando o anoitecer? Talvez, apegara-se ao conforto de não precisar se mover, de estar e ficar... Simplesmente permanecer. Ausência de ações que gentilmente afagam a ilusão de ter chegado ao destino final. Engano. Era só passagem, miragem para os sentidos.
Foram apenas minutos, que agora pareciam não tê-la descansado. Mas inquietado-a ainda mais.

Era hora de seguir.

Pôr os pés mais uma vez à prova. O caminho sempre longo, nem sempre seguro, nem sempre certo, nem sempre reto... Mas o caminho de alguma forma era mais bonito agora, depois do anoitecer ali, no banco.
As luzes da cidade acesas traçavam uma nova linha, contornando o que seria o seu percurso. Iluminavam também seus sentidos, seus pensamentos. Tinha certeza, era hora de ir, seguir, seguir em frente.

Olhou mais uma vez o banco, sentiu-se feliz. Talvez pelos minutos fugazes, mas que deixavam uma sensação perene. Talvez, porque agora lhe parecia mais claro o pensamento. foram minutos preciosos que lhe renderam a certeza que chegaria em casa.

copyright©caualexandre2011
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