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10 maio, 2005

Idas e Vindas...

“Todos os dias é um vai e vem, a vida se repete na estação, Tem gente que chega pra ficar, Tem gente que vai pra nunca mais, Tem gente que vem e quer voltar, Tem gente que vai e quer ficar, Tem gente que veio só olhar, Tem gente a sorrir e a chorar...” *

Quantas vezes nos pegamos numa imagem igual à da música do “Encontros e despedidas” do Milton Nascimento.
Parece mesmo que quando achamos que chegamos, na verdade já estamos indo.
Nos últimos tempos tenho me sentido assim. Não sei se acabei de chegar ou se já estou de saída.
Raízes. Penso que as raízes é que estão em falta. Eu que fui sempre tão “enraizada” nas coisas, vejo-me sem vontade de ficar. Na plataforma da estação já à espera do próximo trem.
Tive essa sensação quando visitei a velha e linda estação da Luz (eita.. e lá se vai um ano já). Pessoas chegando, pessoas indo... e eu ali, parada, estática, enraizada na minha contemplação. Na verdade, não estava mais enraizada que os transeuntes, só tinha parado pra ter a falsa sensação de que ficava. Mas na verdade, eu também já ia.
A vida é isso mesmo. Encontros inesperados, promovidos pelo acaso. Despedidas repentinas ou propositais que nos atropelam quando menos esperamos.
Como no laço, que se desfaz na hora menos esperada, e simplesmente sentimos que o que antes estava seguro, agora escapa.
Acho que eu tenho escapado. Tenho ido, sem sair do lugar.
Essa sensação de não ficar me incomoda – até porque gosto de raízes, gosto de ficar, gosto de ver dias e dias se passando e poder contemplar as variações das cores do ocaso e poder compará-las com a do dia seguinte. Mas quem não se sente movido a “ir”? O novo, diferente, maravilhoso e estonteante desconhecido? Quem não se sente assustado, abismado, estremecido, diante do mesmo incógnito?
Mas essas são ponderações de quem vai ou fica.
De quem só pensa, fica o devaneio: “Como teria sido se...”
Também se vai por necessidade de ir... de abrir caminho a quem precisa ficar... de deixar espaço a quem precisa mais que você.Hoje não sei se vou ou se fico... como no poema da Cecília Meireles. Estou com a sensação da plataforma da estação. Não sei se encontro ou me despeço. Não sei exatamente onde minha alma está neste momento, talvez esteja exatamente na plataforma... decidindo se estou chegando, ou indo... “E assim chegar e partir, são os dois lados da mesma viagem, O trem que chega é o mesmo trem da partida...”


por Cau Alexandre

*Trecho da música Encontros e Despedidas
de Milton Nascimento Fernando Brant


Cauzinh@...