Páginas

18 junho, 2006

Post de aniversário...


Eus...


Por Cau Alexandre

Sou um borrão...

Daqueles em que se tentou escrever, ou que se escreveu enquanto se fazia outras coisas.
Desenhos do inconsciente, flores, bolinhas, bichinhos informes, riscos, números e letras... muitas letras...

Sentimentos adversos transmitidos direto do porão da alma. Cores variadas, tons que se alternam, furta-cor... Depende do dia, da hora, da luz...

Pra cada sentimento uma nova visão, como um borrão de Rorschach
O que sentes ao olhar pra mim? O que eu consigo extrair de você? Alegria, raiva, angústia, amor, incredulidade, fé, força, cansaço, desgaste, sorrisos, saudade, tristezas, uma doce felicidade?

Somos assim, somos aquilo que conseguimos mover, remover, revolver, mexer nos outros... por vezes inesquecíveis, marcantes, como com um ferro em brasa, uma tatuagem na lembrança.

Sou muitas e sou uma, sou uma e não sou ninguém...

Sou um quadro Seurat, cheio de pontinhos, em cores primárias, que se misturam pra formar um colorido quase surreal.

Por vezes sou troncha, torta, derretida e psicodélica como um quadro de Dali.

Às vezes me despedaço, viro mil, como espelho que se quebra, como os pedaços em uma tela de Picasso.

Grande, disforme, pequena, imperceptível, sombria ou invisível.

Quem eu sou? Não, não é essa a pergunta... Como eu sou hoje? Essa sim é a pergunta infinita de hoje e sempre.

A resposta eu não sei, e não animo ninguém a tentar descobrir, há um caminho mais fácil: ver-me somente, neste poço de indecisões do meu ser... Já não tem graça saber quem eu sou...

Espero humildemente que em você eu seja um sorriso...

(Cláudia)


Sou um evadido

Fernando Pessoa

Sou um evadido.
Logo que nasci
Fecharam-me em mim,
Ah, mas eu fugi.

Se a gente se cansa
Do mesmo lugar,
Do mesmo ser
Por que não se cansar?


Minha alma procura-me
Mas eu ando a monte,
Oxalá que ela
Nunca me encontre.


Ser um é cadeia,
Ser eu é não ser.
Viverei fugindo
Mas vivo a valer.