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05 julho, 2006


Sonho de Ícaro

*Biafra


Voar, voar, subir subir ir por onde for
Descer até o céu cair ou mudar de cor
Anjos de gás, asas de ilusão
E um sonho audaz feito um balão


No ar, no ar eu sou assim, brilho do farol
Além do mais amargo fim simplesmente sol
Rock do bom ou quem sabe jazz
Som sobre som, bem mais, bem mais


O que sai de mim feito prazer
De querer sentir o que eu não posso ter
O que faz de mim ser o que sou
É gostar de ir por onde ninguém for


Do alto coração, mais alto coração


Viver, viver e não fingir, esconder no olhar
Pedir não mais que permitir, jogos de azar
Fauno lunar sombras no porão
E um show vulgar todo verão


Fugir, meu bem, pra ser feliz só no pólo sul
Não vou mudar do meu país nem vestir azul
Faça o sinal, cante uma canção
Sentimental em qualquer tom


Repetir o amor já satisfaz
Dentro do bombom há um licor a mais
Ir até que um dia chegue em fim
Em que o sol derreta a cera até o fim


Do alto coração, mais alto coração


Consta na Mitologia Grega que Ícaro, preso num labirinto com seu pai, Dédalo, sonhava em ganhar o céu, feito os pássaros. Dédalo construiu asas com cera e penas e aproveitando o sopro forte dos ventos, fugiram voando. Mas a sensação de voar foi tão estonteante para Ícaro, que este não lembrou das recomendações que o pai lhe dera antes de saírem, de não ir tão alto, perto do Sol, cujo calor derreteria a cera e nem muito baixo, perto do mar, pois a umidade tornaria as asas pesadas. Desta forma Ícaro subiu cada vez mais, e mais, até que aconteceu o que Dédalo previu: o calor derreteu a cera das asas e ele caiu do céu. E Ícaro perdeu as asas, precipitando-se no mar e morrendo afogado.
O que seria do sonho sem a doce sensação de que se pode cada vez mais ir nas alturas? Mesmo que de lá só nos reste um lugar nas vagas do mar...