ALEGORIA PARA OS PÉS CANSADOS
Cau Alexandre
Levantou-se do banco onde estivera tanto tempo, apenas
sentada, vendo o tempo passar. Parecia tanto tempo, tanto tempo à margem do
mundo borbulhante dos passantes. Dos carros barulhentos. Do burburinho das
gentes. Da imagem de profundo infinito que se desenhava tão instigantemente
fugaz e duradoura, tudo bem a sua frente.
Olhou para frente, aqueles minutos pareciam horas, dias,
anos, vidas, eras, mas foram só uns minutos. Alguns minutos para atender seu
cansaço e seus pedidos inconscientes de parar. Descansar... Sossegar.
O dia perdera os tons vermelho-alaranjados do fim de tarde, e
o céu tomava pra si tons de azul profundo. Profunda era sua certeza de que era
hora de seguir o rumo que se abria a sua frente, seu rumo, seu caminho, sua
estrada.
O primeiro passo ainda era o mais difícil. Apegara-se aquele
banco? Impossível. Quem se apega a tão pouco em tão pouco tempo? Seria a
sensação de reconfortante alívio que seus pés cansados sentiam? Certamente.
Seria, sim, o conforto de apenas ficar olhando o anoitecer? Talvez, apegara-se
ao conforto de não precisar se mover, de estar e ficar... Simplesmente
permanecer. Ausência de ações que gentilmente afagam a ilusão de ter chegado ao
destino final. Engano. Era só passagem, miragem para os sentidos.
Foram apenas minutos, que agora pareciam não tê-la
descansado. Mas inquietado-a ainda mais.
Era hora de seguir.
Pôr os pés mais uma vez à prova. O caminho sempre longo, nem
sempre seguro, nem sempre certo, nem sempre reto... Mas o caminho de alguma
forma era mais bonito agora, depois do anoitecer ali, no banco.
As luzes da cidade acesas traçavam uma nova linha,
contornando o que seria o seu percurso. Iluminavam também seus sentidos, seus
pensamentos. Tinha certeza, era hora de ir, seguir, seguir em frente.
Olhou mais uma vez o banco, sentiu-se feliz. Talvez pelos
minutos fugazes, mas que deixavam uma sensação perene. Talvez, porque agora lhe
parecia mais claro o pensamento. Foram minutos preciosos que lhe renderam a
certeza que chegaria em casa.
copyright©caualexandre2011
(Postado em 15 de março de 2011)
(Postado em 15 de março de 2011)